Por Leonardo Boff | Brasil 247
Tempos atrás publiquei no meu blog (facebook e twitter) um artigo com o título “O peso kármico da história do Brasil”. Hoje vejo a necessidade de retomar o tema pois a situação nacional, num cenário eleitoral, se obscureceu e ganhou contornos perturbadores, seja de ruptura constitucional, seja de grave e violenta convulsão social. Quando o atual e sinistro presidente afirma, publicamente, que só reconhecerá um resultado eleitoral, vale dizer, a sua reeleição, caso contrário, questionaria as urnas eletrônicas ou convocaria seus seguidores armados, provavelmente, os milicianos e então ocorreria grave perturbação.
Ele é tão pouco político e desvairado que nem esconde o jogo. Revela-o às claras. Tal comportamento de um chefe de estado que se caracteriza por constantes ameaças às instituições e pelo permanente descaso da situação dramática do país, em especial, dos 660 mil vítimas do Covid-19, dos milhões de famintos, dos de insuficiência alimentar, dos desempregados nos provoca graves preocupações e sérias apreensões.
As razões da irrupção da sombra bolsonarista
Precisamos tentar entender o porquê irrompeu esta onda de ódio, de mentiras como método de governo, de fake news, de calúnias e de corrupção governamental, impedida de ser investigada. Vieram-me à mente duas categorias: uma da psicanálise junguiana, a da sombra e outra da grande tradição oriental do budismo e afins e entre nós, do espiritismo, o karma.A categoria de sombra, presente em cada pessoa ou coletividade, é constituída por aqueles elementos negativos que nos custa aceitar, que procuramos esquecer ou mesmo recalcar, enviando-os ao inconsciente seja pessoal seja coletivo.
Cinco sombras na história do Brasil
Efetivamente, cinco grandes sombras marcam a história politico-social de nosso país: o genocídio indígena, persistente até hoje; o colonização que nos impediu que ter um projeto próprio, de um povo livre; o escravagismo, uma de nossas vergonhas nacionais, pois, implicava tratar o escravo como coisa,”peça”, posta no mercado para ser comprada e vendida e submetida constantemente à chibata e ao desprezo; a permanência da conciliação entre si, dos representantes das classes dominantes, seja herdeiras da Casa Grande ou do industrialismo especialmente a partir de São Paulo. Estes nunca pensaram num projeto nacional que inluisse o povo, projeto somente deles para eles, capazes de controlar o estado, ocupar seus aparelhos e ganhar fortunas nos projetos estatais. Por esta razão emerge uma quinta sombra a democracia de baixa intensidade que perdura até hoje e atualmente mostra grande debilidade. Medida pelo respeito à constituição, aos direitos humanos pessoais e sociais e pelo nível de participação popular comparece antes como uma farsa do que, realmente, uma democracia consolidada.
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