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A Argentina de Milei, vai bem na Copa e no Vaticano. Mas na política (…)

Por Rafael Bertoldo | Economista

No último domingo (19.11.2023), os argentinos foram as urnas e elegeram o novo presidente da Argentina, Javier Milei. Empresário, economista, ultraliberal; Milei, tem uma pequena experiência em vida pública de apenas 2 anos, em seu mandato como deputado, pelo partido que ele próprio fundou, o: “A Liberdade Avança”. E a partir do dia 10.12.2023, Milei empossado, adentrará a Casa Rosada.

Sob o slogan político “La casta tiene miedo” (A casta tem medo), referindo-se aos corruptos que se valem do Estado para enriquecerem, Milei colocou-se durante toda sua campanha como alternativa antissistema, ilibada, incorruptível, antipolítica e salvador da pátria. A Argentina passa por uma grave e profunda crise econômica, inflação a 140% e pobreza e extrema pobreza atingindo 40% da população, o argentino espera por um milagre.

Milei tem algumas peculiares características: antiChina, crítico do aborto, do sistema eleitoral, de movimentos sociais, prega saudosismo de tempos áureos da prosperidade Argentina, é a favor da redução da maioridade penal e tem bom trânsito com o público jovem em redes sociais, onde é muito assíduo, no aplicativo do TikTok, por exemplo, Milei administra mais de 1.5 milhões de seguidores. Sempre com declarações polêmicas, algumas falsas que as vezes são apagadas, mas todas exerceram influência determinante para os 55% do eleitorado em seu triunfo histórico diante do Peronismo de Massa, seu rival.

Mas espera ai! Vocês se recordam de algum político recente na América Latina com postura semelhante? Deixa-me dar umas dicas: Milei não se parece com algum negacionista? eleito com forte influência de Fake News? E guiou uma necropolítica que ceifou quase 1 milhão de vidas na Pandemia, baseada na negação da ciência, da pesquisa e da vida? E tá inelegível até 2030? Se você acertar, ganha um caramelo. E tem outra figura caricata idêntica, na América do Norte, que não aceitou os resultados da eleição de seu país, foi indiciado e segue respondendo criminalmente, por estimular a invasão violenta de repartição pública como método de tentativa de (re)tomada do poder. Olha que isso também aconteceu recentemente na América Latina. (risos inbrocháveis).

Semelhanças com meras coincidências. Milei, tem o DNA de Trump e Bolsonaro.

Bom, a Argentina tenta dourar a pílula com Milei, um personagem que surge com o condão de mitigar a crise social e econômica no país. Com declarações, como “essa aberração, denominada justiça social”, projeto de vendas de órgãos humanos e aliado dos EUA e Israel, autodenominado anarcocapitalista. O extravagante Milei é um protesto, resultado da insatisfação do Argentino.

Com a governabilidade comprometida, Milei não tem maioria nas casas legislativas. A Câmara Alta, equivalente o Senado do Brasil, é oposição ao Governo Milei em maioria absoluta.

Em seu primeiro discurso como presidente eleito Milei afirmou que “hoje começa a reconstrução da Argentina”. Eu já vi esse filme Milei, em meu país. Um déspota com discurso muito similar, pois o resultado foi de um Governo sombrio. A Argentina vai bem no Vaticano e no Futebol, mas na política o prognóstico é apavorante.

Rafael Bertoldo é economista, gerente da Broto Incubadora de Biotecnologia da UESC, especialista em Gestão Pública, Mestre em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação e doutorando em Direito pela UFSC/UESC.


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