“Daqui eu vejo tudo. Quem está comprando para o Natal e sai com sacola de marca e quem só pode tomar um café mesmo”, diz o senhor que se apresenta apenas como Luda, 66, e há oito anos passa as tardes em seu banquinho, tocando clarinete, em frente ao shopping Pátio Higienópolis, no bairro homônimo de classe alta, em São Paulo. “Sou uma espécie de barômetro da economia.”
O músico, porém, vê mais do que isso. Pela calçada, ao seu lado, passam entregadores, motoristas de aplicativos e ambulantes –que não se fixam em frente ao shopping. Assim como ele, todos tentam se virar de alguma forma.
Alguns deles tão ou mais jovens que Gabriel Obelino de Souza, 19. A reportagem o encontrou, na quarta-feira (18), em frente ao shopping Cidade de São Paulo, na avenida Paulista. Diariamente, o vendedor de balas percorre toda a via. No fim do mês, nunca leva para casa mais do que R$ 800 –dinheiro que sustenta ele, a mãe, que está impedida de trabalhar por uma cardiopatia, e o irmão de oito anos.
A ceia de Natal de sua família: arroz, feijão e uma mistura (a depender do resultado das vendas), diz.
Para o próximo ano, o jovem morador de Cidade Tiradentes, na zona leste paulistana, não espera mais do que isso. Tampouco acredita que poderá pagar com um pouco mais de folga os R$ 400 de aluguel ou que chegará ao Natal de 2020 em condição melhor. “Pra gente, com o Bolsonaro, só piorou. A única coisa que ele faz é falar de arma. Emprego mesmo não tem”, afirma.
A falta de perspectivas narrada por Gabriel retrata o estado de ânimo de boa parte da parcela mais humilde da população brasileira. Ao longo do primeiro ano de governo de Jair Bolsonaro (sem partido), formou-se um cenário no qual quanto menor a renda, mais forte foi ficando o pessimismo e mais tímido o otimismo com a recuperação da economia.
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