Por Luiz Carlos Bresser-Pereira | Economista
A saída do Reino Unido da União Europeia é mais um sinal da profunda insatisfação do povo dos países ricos contra suas elites econômicas e políticas neoliberais e globais. É um sinal semelhante ao que é dado pelo crescimento dos partidos políticos e dos candidatos de extrema-direita. Os trabalhadores e as classes médias burguesas, que se sentem excluídas do banquete liberal que domina o mundo desde 1980, manifestam assim o seu protesto.
O capitalismo nasceu desenvolvimentista, com o mercantilismo; foi relativamente liberal entre os anos 1830 e 1929; e chegou a seu apogeu no após-guerra, entre 1946 e 1973, então sob a forma de um desenvolvimentismo social-democrático, nos chamados Anos Dourados do Capitalismo. Neste último momento os países ricos souberam aliar a ideia de nação e a solidariedade básica que ela supõe, com a ideia de sociedade civil e de conflito de classes. No quadro da nação, a prosperidade da elite e do povo dependia de um mercado interno grande e seguro, que garantia bons lucros à elite e salários crescentes para os trabalhadores.
O quadro mudou nos anos 1980, com o advento do neoliberalismo. Vemos, então, as elites econômicas perderem a ideia de nação, porque seus lucros não dependiam mais dos lucros obtidos no mercado interno. Ao invés, tínhamos agora empresas multinacionais cujos lucros eram obtidas em grande parte no exterior. Desaparecia para essas elites a ideia de nação. Agora o que importava era ser vitorioso na competição internacional, porque dessa vitória dependiam os dividendos dos rentistas e os altos salários e bônus dos dirigentes das grandes empresas.
Vimos então reformas econômicas violentas, todas voltadas para a liberalização e a privatização. Reformas que deixavam o povo de lado. Porque, agora, segundo a nova verdade, o Estado não tinha mais o dever de proteger o seu povo. Seu único dever era o de garantir o bom funcionamento do mercado, que automaticamente garantiria a felicidade geral.
O povo demorou a perceber que isto era mentira. Que seus direitos e suas conquistas não estão sendo devidamente protegidos. E protestam contra esse domínio do mercado e das suas grandes empresas multinacionais, apresentados pelos políticos como se fosse a única via possível. Protestam saindo da União Europeia, que se identificou com esse neoliberalismo; protestam contra os políticos de centro-direita e de centro-esquerda, que também se curvaram à “verdade” do liberalismo econômico.
O povo demorou a perceber, mas agora está percebendo. E diz seu “basta” da forma que pode. O que está deixando as elites econômicas e políticas liberais perdidas, sem saber onde erraram.
Luiz Carlos Bresser-Pereira é Economista, professor e ex-ministro da fazenda.