Blog Tempo Presente

Problemas de escoamento em Salvador estão relacionados a ‘urbanização pouco inteligente’

Problemas de escoamento em Salvador estão relacionados a 'urbanização pouco inteligente'Do Bahia Noticias

O dia caótico enfrentado pelos soteropolitanos nesta terça-feira (26) não surpreendeu o professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e especialista em hidrologia e hidráulica Lafayette Dantas da Luz. A chuva torrencial que caiu na capital durante a madrugada e toda a manhã provocou alagamentos em diversos pontos da capital baiana, além de deslizamentos de terra e congestionamentos nas principais vias (lembre aqui e aqui).

“Não é de assustar. A gente sabe que isso vai acontecer, e vai acontecer de novo”, afirmou o professor do departamento de Engenharia Ambiental. Ele atribui os problemas de escoamento da água e drenagem enfrentados por Salvador à falta de atenção à urbanização, feita de um modo “que não é inteligente”. “Ela só privilegia a impermeabilização”, analisou o especialista ao apontar o erro histórico de gestões municipais que focam em obras de macrodrenagem que não surtem efeito necessário para a cidade de Salvador.
A Avenida ACM, uma das principais da capital baiana, ficou imersa na manhã de ontem. Durante a tarde o prefeito de Salvador ACM Neto (DEM) reconheceu que os alagamentos na localidade em decorrência das obras do BRT estavam previstos. “Já sabíamos que isso iria acontecer porque as obras fazem temporariamente o barramento do canal”, explicou ao prever que “quando estiver tudo pronto, essas intervenções irão solucionar em definitivo esse problema na ACM”

No entendimento de Lafayette, a “engenharia não resolve tudo” e as obras de macrodrenagem na concepção que vem sendo pensadas e executadas “não vão adiantar nada”. “É dinheiro posto fora. Assim como foi posto fora dinheiro no tamponamento dos rios da [Avenida] Centenário, do Imbuí, do Rio Jaguaribe, que está em obras. Esse projeto de macrodrenagem como é feito de canalização dos rios não adianta”, exemplificou o professor.

A saída, de acordo com o especialista em hidrologia e hidráulica, envolve pensar a cidade de uma forma mais ampla, inclusive refazendo alguns aspectos estruturais e urbanos. Isto inclui o investimento em localidades livres, mais áreas verdes, criação de estruturas infiltrantes, que podem estar em praças e ao longo das ruas, e privilegiar o uso de pavimentos porosos, por exemplo. Essas alternativas permitiriam que a água não acumule de vez, como ocorre atualmente.

O professor destaca que ações como estas já foram empregadas em cidades pelo mundo e apresentaram resultados positivos. “Há soluções técnicas que podem, se não solucionar de vez, pelo menos minimizar esses problemas”, argumentou Lafayette ao destacar que a resolução do problema enfrentado por Salvador envolve uma mudança de concepção sobre a maneira como os projetos são feitos, e a maneira como a cidade é encarada.

“Mas isso envolve um esforço maior do que uma simples obra de engenharia como os governantes estão acostumados”, lamentou o professor da Ufba.


COMPARTILHAR