Com participação da sociedade civil e da comunidade acadêmica, foi criada a União Nordeste Mar (UNEMar), em defesa do uso sustentável das regiões litorâneas e oceânicas, propondo programas e ações unificados para implementação após a pandemia da Covid-19. O Nordeste possui a maior parte da região costeira do país, que, além de pouca protegida, recentemente foi atingida por grandes manchas de óleo.
“É necessário pensar de uma forma inclusiva, para não haja a interrupção no processo de recuperação ambiental que está ocorrendo durante o fechamento das praias neste período de pandemia”, afirma o presidente da Redemar, William Freitas. Ele destaca que a região litorânea é uma fonte econômica importante para o Nordeste. Entretanto, com o término da quarentena, algumas atividades predatórias poderão retornar com mais impacto, prejudicando os ganhos ambientais que estão ocorrendo durante o isolamento.
Ele teme que a busca para alavancar a economia e a alta ocupação de ambientes públicos, pós covid 19, poderão promover uma demanda desordenada e caótica. “Caso a abertura da zona costeira ocorra de forma descuidada e irresponsável, um quadro de agravamento das complicações já presentes no ambiente marinho pré covid 19 poderão ser perceptíveis.”, pondera Freitas
Cobrindo 70% da superfície da Terra e produzindo mais da metade do oxigênio do planeta, mares e oceanos são essenciais para a vida humana. Apesar disto, é exatamente a ação dos homens que está ameaçando estes ecossistemas fundamentais.
Para além das mudanças climáticas e da acidificação das águas por excesso de CO2 no ar, no Brasil mais de 80% das espécies exploradas na costa brasileira estão ameaçadas pela pesca predatória e ilegal, correndo o risco de extinção. Dez milhões de toneladas de lixo chegam ao mar todos os anos, poluindo e comprometendo todo o ecossistema. O turismo predatório destrói sistematicamente as reservas naturais.
Neste contexto, o movimento UNEMar surge de uma inquietação quanto à gestão costeira da região. Pretende pensar esse patrimônio natural do Nordeste brasileiro de forma mais abrangente e inclusiva, de forma a preservá-lo.
No quesito monitoramento e tomada de decisão, atividades hoje realizadas de forma individualizada pelos Estados, a UNEMar propõe a discussão horizontal., dando dinamicidade ao processo além de agregar todos envolvidos na cadeia, aí incluídas as comunidades tradicionais, os povos do mar, populações indígena e quilombola.
PILARES
A UNEMar possui três pilares norteadores: a Década dos Oceanos que se inicia em 2021, a Economia Azul e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Assim, alinhada com as necessidades locais e específicas, visa inovar no que tange ao gerenciamento costeiro unificado.
O Nordeste do Brasil conta com a maior parte da Amazônia Azul comparada com as outras regiões, e com bastante valor econômico pelo seu posicionamento geográfico estratégico. A UNEMAR entende que é necessário o gerenciamento consolidado, para que as tomadas de decisão se dêem de forma conjunta, assertiva e debatidas previamente com todos os atores do espaço especial costeiro/oceânico.
Com sede em Salvador, a UNEMar está reunindo colaboradores de vários setores, como instituições de ensino e de pesquisa, Poder Público, Terceiro Setor, Sociedade Civil e empresariado para que, juntos, encontrem a melhor forma de aproveitamento costeiro de forma sistêmica, estratégica e sustentável.
OBJETIVO
O objetivo é buscar soluções em consonância e respeito, pautando a ética, transparência, empoderamento das áreas multisetoriais e multidisciplinares, que utilizam diretamente os serviços e recursos ambientais costeiros oceânicos. “A melhoria da qualidade dos serviços ambientais prestados pelos oceanos está estritamente ligado à conservação e à proteção desse ecossistema”, continua Freitas.
A questão da regulação do clima é uma das interfaces que estará sendo discutida no sistema de gestão mista que propõe interligar partes que antes trabalhavam de forma isolada, pois entendemos que a base de sucesso perpassa pela inter-comunicação das áreas de trabalho no enfoque oceânico.
A Observação de Maximiliano Nagl Garcez Coordenador da Advocacia Garcez, escritório especializado em defesa da cidadania, do movimento sindical e de movimentos populares Advogado da REDEMAR., A criação da UNEMar vem em excelente hora para, suprindo uma lacuna gravíssima que existia na proteção do bioma marinho e das populações que vivem nas regiões costeiras do Nordeste. Considero que a região Nordeste já vem dando exemplos para todo país de como resistir a retrocessos que temos vivenciado nos últimos anos, inclusive na área do meio ambiente, e agora pode dar nova lição a nosso país. Recentemente temos visto como a união do povo nordestino e de órgãos estatais da região vem permitindo lidar com a trágica pandemia do Covid-19 de modo mais eficaz do que na média do restante do Brasil.
A iniciativa parece bastante promissora seja pela multiplicidade de integrantes de diferentes e importantes setores, e por contar com a REDEMAR, entidade séria e combativa e que tem obtido resultados importantes em defesa do meio ambiente marítimo ao longo de sua história. Tenho tido o imenso prazer de poder participar de alguma forma nos últimos capítulos dessa atuação, atuando em defesa da REDEMAR no campo jurídico, como por exemplo nas ações judiciais que trataram do vazamento de óleo no Nordeste, e mais recentemente, em relação ao navio que causou prejuízos ambientais na Costa do Maranhão. Agradeço imensamente o convite para participar desta empolgante iniciativa.
Para o professor Joherbeth Carlos Lima Rêgo (UFMA), que atua na área de gerenciamento costeiro e ambiental, a importância desse coletivo se revela no tocante a um cuidado maior ao uso costeiro sustentável. Ele destaca a necessidade “extrema” da Educação Oceânica, ensinando aos povos do Mar e demais atores o que significa cada elemento no espaço marinho, trazendo-os à luz do conhecimento para despertar seu compromisso com a preservação dos mesmos.
Segundo o biólogo. Victor Rocha Bandeira, a criação da União Nordeste Mar vem da necessidade do empoderamento da região – que possui a maior costa do Brasil – com uma melhor Gestão Costeira e utilização dos seus recursos de forma sustentável, valorizando os povos do mar, e realizando trabalhos de Educação Ambiental e de Preservação Ambiental da nossa costa. Na UNEMAR, ele pretende discutir sobre a utilzação adequada do potencial turístico da região como fonte de renda, para beneficiar principalmente as populações que vivem diretamente do mar.
A diretora do Instituto de Geociências da Ufba, Olívia Maria Cordeiro de Oliveira acredita que “trabalhos em ‘Rede, principalmente de cunho interdisciplinar se configuram como um potencial incremento nas contribuições da temática em tela”. A interação e o intercâmbio de idéias entre as instituições parceiras, através do trabalho em conjunto com os pesquisadores e sociedade contribuem para o fortalecimento de todo as propostas e estratégias para o bem comum. Para ela, se faz imprescindível e urgente a construção coletiva de ampla base de dados de todo conhecimento costeiro existente, bem como seu monitoramento constante para a promoção de benefícios sócioeconômicos e ambientais.
Mais informações: Coordenador Institucional da UneMar, William Freitas. Presidente do REDEMAR .Cel (71) 99937-9672.