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As três vitórias do governo grego

Martin Schulz / FlickrPor Jacques Sapir | Carta Maior | Tradução de Clarisse Meireles
Seja qual for o resultado da reunião do Eurogrupo, está claro que o governo grego – chamado de maneira imprópria de “governo de esquerda radical” ou “governo do Syriza”, mas na realidade um governo de união (e o fato de que essa união ter sido feita com o partido soberanista ANEL é significativo) – já obteve êxitos espetaculares. O sucesso é bom tanto para a Grécia, onde o povo recuperou sua dignidade, quanto para os outros países europeus, onde o exemplo deste governo mostra o caminho a seguir. Mas, e isto é o mais importante, este governo – na luta sem tréguas que travou contra o que eufemisticamente chamam de “instituições”, ou seja, principalmente o aparelho político-econômico da União Europeia, do Eurogrupo, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu – mostrou que o “rei está nu”. Toda a estrutura, complexa e pouco transparente deste aparelho político-econômico foi desafiada a responder a uma demanda política, e se mostrou incapaz de fazê-lo. A imagem da União Europeia foi fundamentalmente alterada. Qualquer que seja o resultado das próximas reuniões, que resulte na constatação de um fracasso ou numa capitulação da Alemanha e da corrente da austeridade, ou até mesmo, o que não podemos excluir, na derrota do governo grego, o aparato político e econômico da União Europeia terá exposto abertamente sua nocividade, incompetência e ganância. Os povos dos países europeus agora sabem quem é seu pior inimigo.

A estratégia da União Europeia

O governo grego, no decurso das negociações que começaram no fim de janeiro, foi confrontado com a posição inflexível dessas “instituições”. Mas essa inflexibilidade reflete mais uma trágica falta de estratégia, e a busca de objetivos contraditórios, do que uma vontade real. De fato, compreendemos que estas “instituições” não tinham nenhuma intenção de ceder no princípio da Euro-austeridade, uma política de austeridade na escala europeia criada sob o pretexto de “salvar o euro”. Para isso, recusaram a priori as propostas do governo grego, que eram, no entanto, razoáveis, como muitos economistas apontaram. As propostas apresentadas por essas “instituições” foram descritas como o equivalente econômico da invasão do Iraque em 2003 por um colunista que não está à esquerda no espectro político. É preciso ver esta recusa como uma admissão de fracasso terrível. A posição foi defendida publicamente pelos representantes da União Europeia, mesmo que ela não tivesse nenhuma base na realidade, e que se apoiasse unicamente na mais estreita ideologia. Estes representantes foram incapazes de mudar suas posições e se aferraram em argumentos muitas vezes falsos, da mesma forma como o governo dos EUA foi irredutível sobre a questão das armas de destruição em massa atribuídas a Saddam Hussein.

Ao mesmo tempo, estas “instituições” sempre proclamaram sua vontade de manter a Grécia na Zona do Euro. É preciso compreender aqui o tamanho do paradoxo: diz-se uma coisa e se faz tudo para que o oposto ocorra. Porque, se os países do Eurogrupo realmente queriam que a Grécia permanecesse na Zona do Euro, deviam reconhecer que o país precisava de um esforço de investimento ao longo de vários anos, e que era, portanto, necessário que o Eurogrupo financiasse este plano de investimento. Assim, com dois objetivos contraditórios (a austeridade e a vontade de manter a Grécia na Zona do Euro), é muito provável que as “instituições” percam ambas as apostas. A Grécia vai sair na prática da Zona do Euro e a política de “Euro-austeridade” será posta em xeque, com consequências políticas tanto na Espanha como na Itália.

Tendo resistido firmemente às demandas das “instituições” europeias, o governo grego expõe a céu aberto a contradição da política da UE. Com sua atitude, salienta a incoerência desta política. Mas também deixa outra coisa bastante evidente: a má-formação congênita da Zona do Euro.
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