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O enfrentamento da onda de extrema-direita no mundo e as lições para esquerda no Brasil no cenário político local

Por Rafael Bertoldo

Tem-se observado, no cenário político internacional, a crescente onda de extrema-direita em diversos países conquistando postos decisórios, eleições e com desvergonha e sem pudor avançando pautas odientas, racistas, anti-ciência, xenófobas e derivados. A extrema-direita nunca deixou de se organizar, o ódio não dorme, o racismo não dorme, o machismo não dorme. Quem nos últimos tempos está desarticulado, somos nós, a esquerda. Pois que tomemos três exemplos como inspiração para a nossa odisseia política eleitoral este ano em mais de 5.500 municípios no Brasil.

O primeiro exemplo é o do Reino Unido, após 14 anos de Governo de centro-direita e conservador a esquerda sagrou-se vitoriosa após certame eleitoral. A vitória foi tão ampla e inquestionável que contagiou a casa legislativa, o Partido Trabalhista inglês conquistou 410 das 650 cadeiras do parlamento. O grande desafio à esquerda no Reino Unido é a retomada do desenvolvimento e a saída definitiva da recessão econômica, geração de trabalho e renda e o avanço em pautas sociais. Tais elementos (re)uniram à esquerda e a população insatisfeita.

O segundo exemplo foi no México, a primeira Presidenta mulher é cientista, foi líder estudantil e foi também a primeira prefeita mulher da capital Cidade do México, cidade modelo das medidas de profilaxia e protocolos anti-Covid, no período mais agudo da Pandemia, uma mulher da ciência e pró-vida. Claudia Sheinbaum, obteve expressivos 60% de votos válidos no México. Tendo um perfil técnico, apoiada pelo movimento feminista mexicano e pelo popularíssimo López Obrador (Presidente anterior), Sheinbaum, tem a missão de continuar a denominada “Quarta transformação” no México e desafios sobressalentes surgem como: a crise imigratória fronteiriça com os EUA e a sensação de insegurança pública com o domínio de cartéis do intenso tráfego de drogas mexicano.

O terceiro, último e mais recente exemplo, é também o que carregue a circunstância mais emblemática, a França. Há tempos acompanhamos a ascensão da coalisão denominada Reagrupamento Nacional (RN), liderado pela extremista de direita Marine Le Pen, inclusive, obteve desempenho destacado nas prévias e no primeiro turno das eleições francesas. No entanto, após as campanhas, mobilização de artistas, atletas notáveis, dentre outros, contra o movimento extremista de direita, hoje (07.07), os franceses arrebataram a coligação de partidos de esquerda, a Nova Frente Popular (NFP), como mais a votada, numa virada histórica; em segundo lugar ficou a coalisão Renascimento, liderado pelo presidente Macron e em terceiro a coligação extremista de Le Pen. O primeiro-ministro deverá ser indicado sendo o representante da nova coligação mais votada, observa-se que foi um recorde de votantes na França, onde o voto não é obrigatório.

Logo, quais lições podemos sintetizar dos exemplos a partir de nossa realidade eleitoral atual? (não é uma pergunta simples), Observemos às coalisões necessárias para o enfrentamento a extrema-direita, a unicidade, a convergência. E sobretudo não aguardemos a organização sistemática e estratégica das forças políticas do campo do ódio, que tomemos a narrativa por uma sociedade justa, equânime, diversa e inclusiva como projeto social e não apenas como projeto de poder político (isso com urgência). Nas eleições desde ano temos um enorme desafio que é semear os prefeituráveis e as vereanças progressistas nos pleitos municipais. Para daqui a 2 anos não termos que enfrentar um mal mais organizado e robusto que é a extrema direita e suas pautas, hoje, desvergonhadas, racistas, misóginas e sem pudor. Militemos no corpo-a-corpo de onde você estiver.

Rafael Bertoldo, é Diretor de Políticas Públicas da Coordenação do MNU em Itabuna/Ba e Doutorando em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em parceria com a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)


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