Por Rafael Bertoldo
Em tempos de crise climática, a influência da política geral na gestão ambiental é flagrante. O recente caso das inundações no Estado do Rio Grande do Sul é um exemplo claro de como decisões políticas podem agravar desastres naturais. O afrouxamento das políticas ambientais, como por exemplo, a flexibilização das regras de proteção de áreas de risco, contribuiu para a vulnerabilidade das regiões afetadas. As causas ambientais negligenciadas por agentes governamentais, resultaram em consequências devastadoras, atingindo especialmente as populações mais vulneráveis. Esse fenômeno devasta mais gravosamente as comunidades pobres e marginalizadas que são de modo desproporcional afetadas por desastres ecológicos, evidenciando uma injustiça sistêmica e o racismo ambiental que são, inegavelmente, políticos.
No cenário internacional, o crescimento do fascismo e da extrema direita na Europa nos últimos dez anos sublinha a interconexão entre a política e a crise climática. Em 21 países europeus, partidos de direita e extrema direita estão no poder. Este aumento do poder da direita está ligado a fatores como a insatisfação popular com governos progressistas, crises econômicas, violência policial, repúdio a imigração e o negacionismo face a crise ambiental.
O que isso tem a ver com você?
No Brasil, o ano eleitoral traz à tona a necessidade urgente de incluir a agenda ambiental nas discussões políticas. Nos municípios e territórios, a eleição de vereadores e outros representantes locais tem um impacto direto na implementação de políticas de preservação ambiental e direitos humanos. Agendas progressistas que priorizam a sustentabilidade e as pautas minoritárias são cruciais para enfrentar a crise climática. No entanto, essas agendas enfrentam resistência de forças políticas conservadoras que minimizam a importância das questões ambientais em prol de interesses econômicos imediatistas. Vide PEC 03/2022, Proposta de Emenda Constitucional, que revogaria um trecho da Constituição e autorizaria a transferência dos territórios de marinha para ocupantes particulares, foi retomada e está em debate.
Tudo, absolutamente tudo, é político. As escolhas que fazemos nas urnas determinam o futuro do nosso planeta e das próximas gerações. Se nos abstemos de tomar partido, outros decidirão por nós, muitas vezes em detrimento da proteção ambiental e dos direitos humanos. A emergência climática não pode ser dissociada das dinâmicas políticas. Ela é um reflexo das prioridades e decisões de nossos governantes. Portanto, é essencial nosso engajamento político, demandando políticas públicas que enfrentem a crise climática com a seriedade e urgência que ela exige.
A luta contra a emergência climática é, antes de tudo, uma luta política. Cada medida de preservação, cada legislação ambiental, cada decisão de desenvolvimento sustentável é moldada pelas forças políticas em jogo. Portanto, devemos reconhecer que, gostemos ou não, tudo é político. A omissão é um luxo que não podemos mais nos permitir, pois o preço a ser pago é a degradação irreversível do nosso meio ambiente e a perpetuação das desigualdades sociais.
Abre seu olho! E siga uma diretriz política progressista urgente!
Rafael Bertoldo é Analista da UESC (Universidade Estadual de Santa Cruz). Doutorando em Direito pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) em parceria com a UESC e Diretor de Públicas do MNU (Movimento Negro Unificado) na cidade de Itabuna/BA.