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Terror na França e imperialismo militar

Por Luiz Carlos Bresser-Pereira

Paris, talvez a cidade mais civilizada do mundo, foi atacada pelo organização mais incivilizada de que tenho notícia: o grupo terrorista Estado Islâmico.

Diante do ataque, o presidente François Hollande “declarou guerra” ao grupo. Mas presidente, a França está em guerra na Síria há muito! Primeiro, em conjunto com o Reino Unido, aliou-se a grupos rebeldes sunitas e à Arábia Saudita, onde há uma ditadura muito pior do que a existente na Síria, e deu início uma guerra civil desumana, que já matou centenas de milhares de cidadãos sírios, e está provocando um enorme êxodo de suas famílias.

Esse ataque comandado pela França e o Reino Unido, ao enfraquecer Bachar el-Assad, permitiu que o grupo terrorista, que se originou na guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, se fortalecesse na Síria e conquistasse amplos territórios no norte da Síria e do Iraque. A França, então, seguiu os Estados Unidos, e passou a bombardear o Estado Islâmico. A resposta trágica ao imperialismo francês foram os atentados praticado contra os parisienses.

O imperialismo militar foi no passado muito útil, mas o mundo mudou, e, há muito tempo, deixou de fazer sentido – de ser do interesse das potências imperiais. Vimos isto no Iraque; estamos vendo a mesma coisa na Síria. Quando essas potências descobrirão esse simples fato?

Neste quadro terrível, um fato animador. A Rússia fortaleceu-se quando decidiu entrar no conflito e bombardear não apenas o EI mas também os grupos rebeldes associados ao Oeste. Em consequência, os Estados Unidos e a Rússia estão começando a discutir uma saída acordada para o problema da Síria que tenha como participante Bachar el-Assad. Ontem, um grupo de 20 países reconheceram a urgência de uma transição política.

Luiz Carlos Bresser-Pereira é economista, ex-ministro da fazenda e professor.


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