O papa Francisco afirmou que renúncias de pontífices não deveriam “virar moda” durante sua viagem à República Democrática do Congo no mês passado. “Ser papa é um cargo vitalício. Não vejo razões pelas quais não deveria ser assim”, disse ele. “Tradições históricas são importantes. Se em vez disso começarmos a nos guiar por boatos, vamos ter que trocar de papa a cada seis meses.”
A declaração, feita em uma conversa privada com 82 padres jesuítas congoleses, foi reproduzida pelo jornal La Stampa nesta quinta-feira (16). E representa uma mudança e tanto em relação a falas anteriores de Francisco sobre o tema.
O argentino já disse, por exemplo, que o aumento da expectativa de vida e os avanços da medicina podem tornar a presença de papas eméritos cada vez mais frequentes na Igreja Católica.
Também reiterou em várias ocasiões que não descarta deixar o cargo caso seus problemas de saúde piorem -ele sofre com uma osteoartrite que afeta um ligamento do joelho direito, já teve parte de um pulmão removido na juventude, tem dor ciática crônica, e passou por uma operação no cólon em 2021.
No encontro com os padres congoleses na capital, Kinshasa –numa viagem marcada por fortes comentários políticos-, o papa também confirmou que escreveu uma carta de renúncia dois meses depois de ter sido eleito, em março de 2013. Ele havia revelado a existência do documento à imprensa espanhola no final do ano passado.
“Fiz isso para o caso de ter algum problema de saúde que me impeça de exercer minha função e não esteja plenamente consciente para renunciar”, justificou-se Francisco aos presentes, garantindo que o ato não está no seu horizonte.
Apesar de condenar renúncias durante a conversa, o pontífice defendeu durante a conversa seu antecessor, Bento 16, afirmando que sua saída do cargo foi um ato de coragem.
Em 2013, o alemão foi o primeiro papa a abdicar da função em 600 anos, citando uma saúde física e mental frágil. Ele seguiu como papa emérito por nove anos e, de acordo com pessoas próximas, continuou lúcido até dias antes de sua morte, em 31 de dezembro do ano passado.
A quase década de Bento como papa emérito foi um dos períodos mais polarizadores da Igreja Católica moderna. Embora Francisco tenha comparado com frequência a convivência com o alemão no Vaticano com a experiência de ter um avô em casa, um livro de um assessor próximo do alemão expôs rusgas na relação entre os dois.